16 de setembro de 2015

quarta-feira, setembro 16, 2015
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“É tão difícil – pelo menos eu acho difícil – entender aqueles que falam a verdade.


A Room with a View é o terceiro romance do escritor inglês E.M. Forster (1879-1970), publicado em 1908 e bem recebido pela crítica da época. O título duplo do post se deve às duas traduções que a obra ganhou no Brasil; na primeira, de 1986, tivemos Uma Janela para o Amor, provavelmente para facilitar a associação com a sua aclamada adaptação cinematográfica homônima que acabara de sair; a segunda, encomendada em 2006 pela Editora Globo, foi mais fiel ao título original e ficou Um Quarto com Vista. Ambas as edições estão excelentes, e apesar da segunda não trazer o posfácio escrito pelo próprio Forster cinquenta anos após sua publicação original, contando um pouco o futuro dos protagonistas e fazendo uma análise da obra, a mesma compensa com o prefácio mais do que eficiente assinado por Luiz Ruffato.


“Não se vem para a Itália para coisas agradáveis” foi a réplica; “vem-se para a vida. Buon giorno! Buon giorno!”


A história começa com Lucy Honeychurch, uma jovem britânica de classe média alta que, junto da prima solteirona Charlotte Bartlett, encontra-se na cidade italiana de Florença para uma temporada de férias. Em meio ao frescor da Itália, com suas obras de arte, monumentos, esculturas e telas, além do próprio jeito de ser dos italianos, que polariza com o espírito inglês recatado e burocrático, Lucy conhece um grupo de britânicos hospedados na mesma pensão que a sua, onde, entre eles, estão o Sr. Emerson e seu filho, George. Os Emersons, principalmente o pai, vão de contra a tudo que Lucy e qualquer um dos outros acreditam: são socialistas, filósofos, e têm ideias a frente de seu tempo a respeito de tudo: política, música, arte, convívio em sociedade, e são muitas vezes tomados como excêntricos e inconvenientes. Um incidente durante um passeio pela cidade une Lucy e George, mas, para o mal – ou para o bem – da heroína, a viagem termina com George fazendo-lhe algo considerado de proporções “escandalosas” caso caia no conhecimento público.

De volta à Inglaterra e determinada a deixar para trás sua excursão italiana, Lucy aceita o pedido de casamento de Cecil Vyse, intelectual esnobe que a trata como uma obra de arte a ser aperfeiçoada, e justo quando achava estar a salvo dos Emerson e de qualquer resquício da sua aventura, eis que o acaso resolve pregar uma peça na heroína.

Uma Janela para o Amor / Um Quarto com Vista é um romance clássico que num primeiro momento se encaixa nos moldes de uma comédia romântica, mas que se mostra mais profundo do que isso com suas metáforas e simbolismos que funcionam nos mais diversos níveis. Ao longa da história, Lucy passa por uma série de transformações que vão alterando a percepção que tem si mesma, e mais ainda, da sociedade que a cerca. Aprende a questionar algumas convenções empregadas e se vê tomada por um forte desejo de independência, tanto que ao se ver no centro de um triângulo amoroso, pensa em não ficar nem com um nem com o outro. Sem querer estragar surpresas, uma pista dessa transformação é dado pelo título do último capítulo – O fim da Idade Média. Lucy acha o seu caminho para longe das trevas.

E.M. Forster, através de uma trama simples e das situações mais corriqueiras, brinca com a etiqueta exagerada do britânico do começo do século XX, com a "vulgaridade" campestre X o exagerado decoro urbano, com filosofia e religião, além de algumas insinuações de cunho mais sexual, usando em diversas dessas passagens um tom irônico e direto.

 

Como mencionado, foi produzido em 1985 um filme baseado no romance, sob direção de James Ivory. Fez enorme sucesso, chegando a receber sete indicações ao Oscar e levando três estatuetas (roteiro adaptado, figurino e direção de arte). Seu elenco conta com Helena Bonham Carter, Daniel Day-Lewis, Maggie Smith e Judi Dench, e sem sombra de dúvida é uma adaptação belíssima, bem fiel ao livro.

Ambos, livro e filme, são mais do que recomendados.



Este texto é dedicado à Afonso Rodrigues, do blog E.M. Forster Brasil, amigo mais que querido.

2 comentários:

  1. Muito obrigado pelo carinho, Igor.

    Ainda tenho que ler "Um Quarto com Vista". Está na minha lista de próximas leituras. Quero assistir ao filme somente depois de ler a obra. Tenho todos os motivos para querer assistir, mas só um já valeria pena: a presença de Maggie Smith no elenco.

    Abraços!

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    Respostas
    1. Maggie Smith é sensacional! E nem só ela; todos estão sensacionais. Particularmente, gostei muito da atuação do Daniel Day-Lewis como Cecil Vyse. Para mim, não havia outro jeito de fazer o personagem além do que ele fez.

      Como eu vi o filme primeiro, minha imaginação durante a leitura do livro foi um pouco "influenciada". Mas eu sei que você vai adorar os dois!

      Abração!

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