A Room with a View é o terceiro romance do escritor inglês E.M. Forster (1879-1970), publicado em 1908 e bem recebido pela crítica da época. O título duplo do post se deve às duas traduções que a obra ganhou no Brasil; na primeira, de 1986, tivemos Uma Janela para o Amor, provavelmente para facilitar a associação com a sua aclamada adaptação cinematográfica homônima que acabara de sair; a segunda, encomendada em 2006 pela Editora Globo, foi mais fiel ao título original e ficou Um Quarto com Vista. Ambas as edições estão excelentes, e apesar da segunda não trazer o posfácio escrito pelo próprio Forster cinquenta anos após sua publicação original, contando um pouco o futuro dos protagonistas e fazendo uma análise da obra, a mesma compensa com o prefácio mais do que eficiente assinado por Luiz Ruffato.
“Não se vem para a Itália para coisas agradáveis” foi a réplica; “vem-se para a vida. Buon giorno! Buon giorno!”
A história começa com Lucy Honeychurch, uma jovem britânica de classe média alta que, junto da prima solteirona Charlotte Bartlett, encontra-se na cidade italiana de Florença para uma temporada de férias. Em meio ao frescor da Itália, com suas obras de arte, monumentos, esculturas e telas, além do próprio jeito de ser dos italianos, que polariza com o espírito inglês recatado e burocrático, Lucy conhece um grupo de britânicos hospedados na mesma pensão que a sua, onde, entre eles, estão o Sr. Emerson e seu filho, George. Os Emersons, principalmente o pai, vão de contra a tudo que Lucy e qualquer um dos outros acreditam: são socialistas, filósofos, e têm ideias a frente de seu tempo a respeito de tudo: política, música, arte, convívio em sociedade, e são muitas vezes tomados como excêntricos e inconvenientes. Um incidente durante um passeio pela cidade une Lucy e George, mas, para o mal – ou para o bem – da heroína, a viagem termina com George fazendo-lhe algo considerado de proporções “escandalosas” caso caia no conhecimento público.
De volta à Inglaterra e
determinada a deixar para trás sua excursão italiana, Lucy aceita o pedido de
casamento de Cecil Vyse, intelectual esnobe que a trata como uma obra de arte a
ser aperfeiçoada, e justo quando achava estar a salvo dos Emerson e de qualquer resquício da sua aventura, eis que o acaso resolve pregar uma peça na
heroína.
Uma Janela para o Amor / Um Quarto com Vista
é um romance clássico que num primeiro momento se encaixa nos moldes de uma
comédia romântica, mas que se mostra mais profundo do que
isso com suas metáforas e simbolismos que funcionam nos mais diversos níveis. Ao longa da história, Lucy passa por uma série de transformações que vão alterando a percepção que tem si mesma,
e mais ainda, da sociedade que a cerca. Aprende a questionar algumas convenções empregadas e se vê tomada por um forte desejo de independência, tanto que ao se ver
no centro de um triângulo amoroso, pensa em não ficar nem com um nem com o
outro. Sem querer estragar surpresas, uma pista dessa transformação é dado pelo
título do último capítulo – O fim da Idade
Média. Lucy acha o seu caminho para longe das trevas.
E.M.
Forster, através de uma trama simples e das situações mais corriqueiras, brinca com a etiqueta exagerada do britânico do começo do século XX, com a "vulgaridade" campestre X o exagerado decoro urbano, com filosofia e religião, além de
algumas insinuações de cunho mais sexual, usando em diversas dessas passagens um tom
irônico e direto.
Como mencionado, foi produzido em 1985 um filme baseado no
romance, sob direção de James Ivory. Fez enorme sucesso, chegando a receber sete
indicações ao Oscar e levando três estatuetas (roteiro adaptado, figurino e direção de
arte). Seu elenco conta com Helena Bonham Carter, Daniel Day-Lewis, Maggie Smith e Judi
Dench, e sem sombra de dúvida é uma adaptação belíssima, bem fiel ao
livro.
Ambos, livro e filme, são mais do que recomendados.
Este texto é dedicado à Afonso Rodrigues, do blog E.M. Forster Brasil, amigo mais que querido.
Este texto é dedicado à Afonso Rodrigues, do blog E.M. Forster Brasil, amigo mais que querido.
Muito obrigado pelo carinho, Igor.
ResponderExcluirAinda tenho que ler "Um Quarto com Vista". Está na minha lista de próximas leituras. Quero assistir ao filme somente depois de ler a obra. Tenho todos os motivos para querer assistir, mas só um já valeria pena: a presença de Maggie Smith no elenco.
Abraços!
Maggie Smith é sensacional! E nem só ela; todos estão sensacionais. Particularmente, gostei muito da atuação do Daniel Day-Lewis como Cecil Vyse. Para mim, não havia outro jeito de fazer o personagem além do que ele fez.
ExcluirComo eu vi o filme primeiro, minha imaginação durante a leitura do livro foi um pouco "influenciada". Mas eu sei que você vai adorar os dois!
Abração!