30 de novembro de 2015

segunda-feira, novembro 30, 2015

Escrito pela americana Lionel Shriver, Precisamos Falar Sobre o Kevin foi lançado em 2003 e consagrou-se como um livro polêmico por tratar de dois temas que sempre acabam gerando controvérsias: massacres nas escolas e maternidade.

A trama é a seguinte: Eva Katchadourian tinha uma vida perfeita; era bem sucedida na profissão, tinha um marido amoroso e levava uma rotina confortável. Até que decide ter um filho e tudo desanda. Kevin, desde os primeiros anos, demostra cinismo e apatia em relação a tudo e todos, além de uma clara tendência a perversidade. O menino parece ter a mãe como o principal alvo de suas performances, como se por algum motivo quisesse puni-la. A situação eclode quando, aos quinze anos, Kevin arquiteta um massacre e acaba assassinando nove pessoas na escola em que estudava.

Com a vida virada de cabeça para baixo, a única coisa que resta a Eva é reconstituir e questionar, em forma de cartas endereçadas a seu marido, o seu papel de mãe, de mulher, de pessoa. Ela busca entender a sua parcela de culpa na tragédia, já que, no papel de progenitora do monstro que assassinou a sangue frio sete colegas, uma professora e um zelador, perante a sociedade ela é igualmente merecedora de punição.

E o livro segue dessa forma: Eva vai dissecando desde o papel da mídia até a opressora cultura americana, que ao mesmo tempo em que condena os tais “garotos Columbine” (termo que designa os jovens que, como o seu filho, cometeram chacinas em escolas, em referência ao Massacre de Columbine) revela-se sua plateia mais assídua.

Uma coisa interessante é que Eva não se coloca como vítima. Pelo contrário: desde o começo, ela choca ao demonstrar desprezo à ideia da maternidade e ao se posicionar tão radicalmente a respeito de alguns “tabus”; quando Kevin nasce, por exemplo, Eva não tem receio de confessar o arrependimento de ter se tornado mãe, desejando sua vida antiga de volta.

Ao contrário dos esforços de seu marido Franklin, que se empenha em acreditar que tem uma família perfeita e que as “estranhezas” do filho são “coisas da idade”, Eva é honesta e não tem medo de assumir que a perversidade de Kevin é genuína e calculada.

Precisamos Falar Sobre o Kevin é um livro denso e intrigante, que não hesita em a fundo em temas desconfortáveis: o chamado "instinto materno" é mesmo real? Será que é “permitido” uma mãe não amar o seu filho? E quanto à psicopatia infantil? É certo dizer que o massacre se deveu também ao desamor que Eva sempre demonstrou para ele? O quão longe os pais estão de realmente conhecerem os próprios filhos?

São tabus que o livro toca, sem se incomodar em oferecer respostas formais.

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