Flush é a biografia de um cãezinho inglês
que viveu por meados do século XIX. A ideia de escrever Flush surgiu a Virginia durante a leitura da correspondência entre
os poetas Elisabeth Barret e Robert Browning, onde as descrições vivazes que Elisabeth
fazia de seu fiel cocker spaniel de pelo avermelhado, relatando suas peripécias
e reações inusitadas, lhe atribuía sensibilidade e percepção quase
humanas. Virginia então, com a ideia
inicial de “descansar” do seu romance As Ondas, que tanto lhe consumiu o juízo, deu início a “brincadeira” de
escrever uma biografia para o Flush, tratando-o com a singularidade e
sensibilidade que não deixam devendo a nenhum personagem bem construído.
O Flush sente ciúmes, afeição e
porque não, também tem consciência do próprio pedigree (cachorros tinham seu próprio
sistema de hierarquia social). Nessa, Virginia também aproveita pra fazer
algumas sacadas bem interessantes sobre a dinâmica de relações e o esnobismo da
elite, mas longe de se colocar como uma alegoria crítica, Flush funciona excepcionalmente
como uma história despretensiosa e cheia de humor. Cativante!
MINHA
BREVE HISTÓRIA (Stephen Hawking)
Stephen Hawking, o cosmólogo, lança mão de
uma autobiografia curta e objetiva, quase um folheto (vem até com várias fotos),
imagino que um contraponto justo depois do Teoria
de Tudo escrito por sua ex-mulher Jane (do qual eu só vi o filme). Em pouco
mais de cento e quarenta páginas, ele conta de sua infância comum no sul da
Inglaterra, o tão sonhado ingresso a Cambridge, e logo em seguida a descoberta
da esclerose lateral amiotrófica, que o condenou para sempre a cadeira de rodas.
Funcionou por que me fez conhecer a historia do cara, que é incrível, mas após
ir e voltar umas quatro vezes para reler passagens em que Hawking discorre sobre
seu trabalho, vi que não dá. A Metafísica é demais pra mim. É ainda mais
deprimente se você parar para pensar que todas aquelas ideias foram
simplificadas a exaustão para entendimento geral, como o próprio Hawking afirma.
Minha parte favorita foi ele explicando as piadas metafísicas. Show!
É aqui que eu piso o pé no freio. Essa é uma
leitura que te dá coisas a serem repensadas... Nietzsche não mede palavras para
meter o pau no cristianismo, é fato, e atribuindo à corrente a culpa da sociedade
ocidental da época – estamos falando de 1888, momento de ferveção intelectual –
estar tão corrompida. O texto varia do jocoso ao hostil – o tom de ira em
algumas passagens chega a ser desconcertante. Quando não está usando passagens bíblicas
pra embasar sua acusação (e haja hipocrisia!), está simplesmente fazendo uso
delas para fazer chacota (um dos momentos mais engraçados, inclusive, é quando
ele sai pinçando versículos em que os fundamentalistas mais caem em contradição).
Não é objetivo desse texto reter tudo que o livro diz, mas, em tempos de iconoclastia
e ressignificação de alguns símbolos, achei o livro é um ensaio
atual e pertinente se você estiver minimamente disposto a repensar a “cristofobia”.
CONVERSAS COM WOODY ALLEN (Eric Lax)
Compilação de entrevistas que o jornalista Eric Lax realizou com Woody Allen no decorrer de trinta anos a respeito do processo criativo, direção, edição e carreira. Há tantas passagens de ouro neste livro... o que me deixa ainda mais fascinado em como elas saíram de conversas de certa forma informais. Não precisa ter assistido exatamente a filmografia completa do cara (ele, inclusive vai lançar seu 45º este ano) para ler, mas ajuda, até porque tem uma quantidade exponencial de spoilers.
Pra finalizar, digo que esse livro é só um registro de toda a genialidade de Woody – apesar de todos os esforços dele pra se esquivar desse título. Mas seria exagero considera-lo um tratado filosófico? Talvez, mas já é livro de cabeceira. Merecia uma resenha mais longa, é verdade, mas ele me entenderia.
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