Annie Hall é considerado o filme que inventou a comédia romântica
moderna. Antes dele, Woody Allen já havia feito fama como comediante em filmes
de humor mais escrachado, até que em 1977 escreveu e dirigiu essa crônica sobre
relacionamentos modernos que, mesmo quarenta e sete anos depois de lançado,
continua fresco e atual como nunca.
Alvie Singer (Woody) é um comediante cético
e pessimista que reflete sobre sua vida, infância, carreira, e acima de tudo,
seus relacionamentos com as mulheres. Dentro eles, com certeza o seu breve e
tempestuoso namoro com a excêntrica Annie Hall (Diane Keaton) foi o que mais
se destacou, o que leva Alvie a ir dissecando sobre o que o que levou o namoro
a terminar.
Além de claramente ter ditado os
moldes que as comédias românticas seguiriam dali para a frente, o ineditismo de Annie Hall (que no Brasil ganhou o título horroroso, pra dizer o mínimo, de Noivo Neurótico, Noiva Nervosa) também
se deve ao fato do filme trazer pela primeira vez todos os traços que permeariam
a obra de Woody dali para a frente: os personagens neuróticos, a bela e urbana
Nova York como pano de fundo, as paranoias, os relacionamentos da nova era...
Annie Hall equilibra realismo ao tratar de forma honesta as relações adultas do
século XX ao mesmo tempo em que traz um humor genialmente surreal. Não tem
grandes reviravoltas nem engana a audiência com cenas de humor bobo: com piadas
ácidas que satirizam desde o governo até os reality shows, a obra de Woody Allen fala simplesmente sobre adultos que se
apaixonam, vivem uma vida a dois e se separam quando não dá mais certo. Claro
que nem sempre essas separações são fáceis, mas é a vida. Isso a propósito não
é um spoiler, já que o monólogo de Alvie que abre o filme já avisa que Alvie e Annie não ficam juntos no final.
As atuações de Woody e Diane
estão fantásticas, essa última então, está fenomenal. Se aqui, Woody consolidou
sua persona de resmungão neurótico, Diane não ficou atrás, encantando a todos
com a sua Annie desarticulada, excêntrica e apaixonante. A química e a naturalidade dos dois é inegável e rendeu cenas clássicas inesquecíveis - como quando, depois de ser obrigado a ouvir todo tipo de disparates de um pseudointelectual numa fila de cinema, Alvie "convoca" do nada ninguém menos que o filósofo Marshall McLuhan para dizer que o cara em questão na verdade é um babaca, ou a famosa cena da lagosta, essa originada de um improviso. A Academia reconheceu
o filme com sete indicações, concedendo-lhe quatro estatuetas mais do que
merecidas (Melhor Filme, Melhor Roteiro Original, Melhor Direção e Melhor
Atriz, para Diane Keaton).
Annie Hall é um clássico que
merece ser visto e revisto, inúmeras vezes.
Abaixo, o clássico monólogo que abre o filme.
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