30 de dezembro de 2015

quarta-feira, dezembro 30, 2015
Chegamos ao terceiro livro da série, “Harry Potter e o Prisioneiro de Azakban”, o mais “independente” e divertido dos sete. Independente porque, ainda que contribua inegavelmente para o desenvolvimento do pano de fundo que vem sendo trabalho desde os dois primeiros volumes – principalmente com o seu desfecho dúbio –, “Prisioneiro” possui a trama mais redonda e intricada de todos.

Harry começa o seu terceiro ano em Hogwarts com uma ameaça pairando sobre a cabeça: um perigoso prisioneiro, Sirius Black, acabou de escapar de Azkaban, a prisão dos bruxos, um feito até então inédito. Tido como o maior partidário de Lorde Voldemort, assume-se que Black esteja atrás de Harry para matá-lo, já que aparentemente o menino é única coisa que impede o seu mestre de retomar o poder. Se não bastasse, a escola de magia agora se vê sob a vigilância dos temíveis dementadores, criaturas encapuzadas responsáveis por guardar a prisão de Azkaban. Os dementadores têm a habilidade de absorver toda a felicidade do ar a sua volta, e obrigam qualquer um que cruze o seu caminho a reviver suas lembranças mais terríveis. Para o azar de Harry, eles parecem surtir mais efeito sobre ele do que nos demais.

Os meninos também começam novas aulas e conhecem novos professores, dentre eles a excêntrica Trealawney, professora de Adivinhação e vidente de habilidades questionáveis que parece ter como objetivo de vida prever tragédias para os alunos – para Harry, em especial –, além do gentil e ponderado Remos Lupin, que leciona Defesa Contra as Artes das Trevas e assume como tutor não declarado de Harry, ainda que guarde um segredo obscuro. Sem querer dar spoiler, é na figura de Lupin que temos mais uma amostra de como a sociedade bruxa pode ser cruel com as minorias incompreendidas, que eles preferem simplesmente marginalizar e condenar como “ameaças”.

Com um enredo mais uma vez riquíssimo, J.K. Rowling dá um passo além dos terrenos de Hogwarts e nos leva para conhecer o povoado inteiramente mágico localizado nas proximidades da escola, Hogsmeade, onde se pode tomar uma revigorante cerveja amanteigada no bar Três Vassouras, se esbaldar nas iguarias mágicas da Zonko’s, além de dar uma olhada na Casa dos Gritos, tido como o prédio mais mal-assombrado da Grã-Bretanha. A expansão vai além do aspecto geográfico, é claro, e se estende para a galeria de criaturas e feitiços: somos apresentados ao hipogrifo Bicuço, uma fera alada pertencente a Hagrid (agora também professor da escola) que logo o começo da história é injustamente acusada por algo que pode levá-la a sentença de morte; ao bicho-papão, capaz de assumir a forma daquilo que a pessoa mais teme; e ao Feitiço do Patrono, uma projeção de energia positiva que Harry precisa aprender para ser capaz de espantar os dementadores. Harry também adquire um item valioso que será uma mão na roda para suas aventuras, o Mapa do Maroto, um desenho completo do terreno de Hogwarts que mostra cada pessoa presente em seu perímetro, em tempo real. Falando em tempo, acompanhamos uma arriscada viagem no tempo, que eu adianto, mais uma vez sem querer entregar spoilers, ser uma das coisas mais mirabolantes e geniais saídas da cabeça de J.K. Rowling.

Outro acerto de “Prisioneiro de Azkaban” é o desenrolar do crescimento dos personagens, já que como quaisquer adolescentes de treze anos de idade, Harry, Ron e Hermione não estão imunes aos males dos hormônios e pela primeira vez enfrentam às intempéries da idade, sendo a mais destacada delas o “descobrimento” do sexo oposto; enquanto Harry demonstra inegável interesse pela bela Cho Chang, que assim como ele, joga na posição de apanhadora no time de quadribol de sua casa (que aliás, é a Corvinal), as brigas entre Ron e Hermione começam a revelar que, por trás de todos aqueles desentendimentos, algum coisa fervilha entre os dois. É claro, tudo isso é abordado com simplicidade e bom humor, e é justamente essa transição natural e coerente dos protagonistas que faz com nos afeiçoemos ainda mais a eles.

Com um desenlace – mais uma vez – improvável e empolgante, “Prisioneiro de Azkaban” se firma como o episódio mais alto-astral da saga, ainda que conserve seus traços sombrios. Entretanto, o final falsamente feliz – juntamente com uma nova profecia que prevê o retorno do lorde das trevas muito em breve – é um prelúdio de que as coisas estão prestes a mudar. Infelizmente para pior.

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